terça-feira, 5 de junho de 2012

Rio Lates, uma Vila Mágica em Portugal

Fotos Ana Laura Kosby e Marco Celso Viola




O poeta José Ilídio  Torres havia organizado com os poetas que publicaram na Alef  um lançamento da revista em Ponte de Lima, uma Vila, dito por ele como “mágica”. Para chegar a ela o caminho é a auto-estrada A1 Norte partindo de Lisboa que segue pelo interior de Portugal passando por algumas das principais cidades do país como Coimbra, Aveiro, Porto e monumentos históricos e tradicionais como a cidade de Fátima, ou o Castelo de Tomar. Depois de quatro horas de viagem quase na fronteira da Espanha chega-se a  Ponte de Lima.
Imediatamente começa a aparecer a magia da Vila.






Igreja Matriz


Ponte de Lima é a Vila mais antiga de Portugal, tem  mais de 800 anos, a igreja Matriz é de 1400. Surpreende a beleza  e a integridade das construções bem como a paz que emana do pequeno lugar.
É uma sensação estranha que o tempo não parece importar e que o rio Lima que corre perpendicular a Vila  teve sua ponte construída pelos romanos e parece contrariar a  ideia de Heráclito que é impossível banhar-se nas mesmas águas duas vezes.
A razão do que afirmo é baseada numa lenda local.  Os romanos chamavam a esse rio que cruza a aldeia de Rio Lates, (o rio do esquecimento, que nos faz esquecer a cada renascimento quem fomos na vida anterior, Gustavo Doré ilustra na Divina Comédia, Dante atravessando o Lates). Se dermos a razão da lenda criada nesta cidade pelos romanos é possível, sim, banhar-se nas mesmas águas do Lates diversas vezes, desde que consideramos serem possíveis os renascimentos.









E conta a lenda local, representada nas margens do Rio Lima, que um batalhão de soldados está paralisado pelo medo que se recusam a atravessar o rio com receio de perder a memória. O comandante  é  único a atravessar o rio e ao chegar no outro lado prova  a eles que não a perdeu chamando, um a  um, pelo nome.
E a memória não perdida dessa cidade está colocada em cada parede, viela, janela, porta, no rosto dos moradores e nos pequenos negócios. Foi nela que os monges de Francisco de Assis criaram seu primeiro mosteiro em Portugal e, é passagem do caminho para os peregrinos de Santiago de Compostela.
Aos poucos a magia da pequena Vila vai nos separando da velocidade, da imprecisão, das incoerências  aparentes do mundo e nos põe em suas águas e nos mostra uma vida de solidez e paz que já foi reconhecida pelos reis de Portugal, os monges de Francisco e os peregrinos que nela transitam.
E noite chega e encontramos os poetas José Ilídio  Torres, Maria Alexandra Cruz Mendes, Antonio Paiva e Flávio Lopes da Silva. Nenhum deles reside na Vila e  vieram de diversos lugares de Portugal para nos encontrar e participar do sarau e lançamento da revista Alef organizado por Jose Ilídio no bar, o Arte e Baco.



Arte e Baco em Ponte de Lima


Mas antes disso eles nos convidam para jantar  no restaurante Vaca das Cordas ( título de uma tradição que remonta aos celtas, primeiros habitantes da região. É uma festa, e entre as atrações está um touro ( no início era uma vaca amarrada, mas ela não assustava ninguém trocaram por um touro) persegue a multidão.
O Vaca das Cordas  fica em uma das vielas. As mesas estão na calçada, a primavera portuguesa nos premia com um fim de tarde pleno com o sol refletindo no rio.  A penumbra da noite aumenta e os poetas começam a falar das  tradições do local, de seu amor por Portugal, de sua admiração pelo  Brasil, de suas preocupações com  o futuro da Europa, quando chega a mesa um prato especial do restaurante, um indescritível bacalhau, acompanhado do vinho verde da região ( verde que também pode ser tinto, é verde no tempo de maturação,explicam).



 Maria Alexandra Cruz Mendes, lê seus poemas publicados na Alef


E noite continua perfeita quando seguimos para sarau. Enfrentamos o bar Baco e Arte lotado, uma platéia atenta e o sotaque  diferente começa a ecoar pelas paredes antigas do Baco com poemas ditos na voz de  José Ilídio  Torres, Maria Alexandra Cruz Mendes, Antonio Paiva e Flavio Lopes da Silva e Ana Laura. Alguém puxa também poemas de Pessoa e de outros poetas portugueses que não conhecemos, mas prometemos  descobrir.
Quando o cansaço nos derruba vamos para o melhor quarto de hotel que encontramos em toda a nossa viagem: No primeiro andar da Mercearia da Vila, quase na frente do Mosteiro dos Franciscanos. Um lugar de sonhos abençoados.

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