segunda-feira, 11 de junho de 2012

Sob o Sol da Toscana em Pisa


Fotos de Ana Laura kosby e Marco Celso Huffell Viola



Ao cruzar a  região da Toscana na Itália  é impossível não associá-la ao romance da norte-americana Frances Mayes- Sob o Sol da Toscana-, poetisa e romancista consagrada, ela em vários livros revela sua profunda paixão por essa região italiana com sua cultura das oliveiras, suas tradições e sua história, além do sol, é lógico, coadjuvante importante  nesse início da primavera.  E se  você segue em direção a Nápoles é provável que passe na estrada ao lado da cidade de Pisa, localizada na Toscana.
É um destino no mínimo curioso, a dúvida de entrar ou não em Pisa significa atraso na chegada em outra cidade do caminho, esta sim destino certo. Mas a curiosidade me acompanha desde que li a primeira vez numa antiga revista Seleções Reader’s Digest  sobre a torre inclinada.
O lugar foi um antigo porto romano, apesar de hoje estar bem distante do litoral. Conta a história  que o próprio São Pedro andou por ali pregando sua boa nova. A cidade não é pequena e neste dia tem uma festa que faz com que o trânsito todo seja alterado e nos obriga a cruzar o Arno duas vezes para conseguir chegar a fortaleza onde está a torre. No caminho vejo a primeira e única citação em toda a Itália contra a Máfia, um enorme cartaz pedindo justiça pelo assassinato de dois juízes.
E lá está ela.



O primeiro problema é estacionar, depois se livrar dos vendedores de óculos e bijouterias, todos africanos que falam uma língua e dialetos completamente desconhecidos. É o primeiro local da Europa que encontramos flanelinhas, porém na idade adulta.
Algumas centenas de pessoas de todas as nacionalidades perambulam por ali, outras deitadas na grama aproveitam o sol e à tarde magnífica que se estende em torno da torre. Outra característica é que a grama é cercada por correntes, o que subentende-se que não se pode transitar, todos absolutamente ignoram tais correntes e deitam-se confortavelmente ao pé da torre inclinada sob o sol da toscana de uma Itália, por si transgressora, não estamos mais na Suiça com certeza!



Alguns painéis explicam porque a torre está assim e os trabalhos feitos para sua recuperação e se você quiser subir, está aberta a visitação até o topo.


 Mas nada disso me atrai para dispensar algum tempo, apenas a contemplação do monumento me parece importante. O mistério de uma construção que através dos séculos vem lutando contra a gravidade parece ser o mais significativo  assim como a  lenda da  loba que alimenta os irmãos Rômulo e Remo, uma outra representação curiosa  junto da torre que nem imagino porque encontra-se ali.
Parti ainda não inteiramente convencido se havia valido a pena entrar na  cidade e não lamentei não ter tirado uma daquelas fotos tradicionais que os turistas fazem  como se estivessem segurando a torre.






quarta-feira, 6 de junho de 2012

Barcelona- por Ana Laura Kosby

Fotos Ana Laur Kosby e Marco Celso Huffell Viola

 Bairro Gótico do lado esquerdo e o Mercado Santa Catarina do lado direito


 Mercado Santa Catarina

Barcelona se fosse gente seria mulher. Uma mulher misteriosa, cheia de segredos, uma feiticeira. Isso, Barcelona seria uma feiticeira, com o poder de transportar no tempo, criar fantasias e atmosferas. Barcelona possui esta magia.
 Chegamos  a Barcelona por volta do meio dia, fora dos roteiros turísticos usuais. Escolhemos um apartamento no Bairro Gótico, com vista para o mercado Santa Catarina e para o casario do Bairro Gótico.



 Fica há mais ou menos 700 metros da catedral e dos sítios arqueológicos do centro de Barcelona, bem como podemos ir a pé à estação do metro Jaume, o que nos deixa perto de quase tudo que é importante, além de estarmos há dez minutos da praça central, onde pode-se pegar ônibus para o aeroporto em um trajeto de meia hora. Porque um apartamento? Porque não um hotel? Porque somos apaixonados por cozinha e não poderíamos desperdiçar a oportunidade de cozinhar em Barcelona, com tudo que a cidade nos proporciona de variedade de ingredientes e frutos do mar. Ao chegar ao aeroporto ligo para nosso contato em Barcelona que irá nos esperar  à porta do Mercado Santa Catarina, ficamos um pouco intrigados porque não no endereço? Mais tarde descobrimos que é para fugir dos taxistas que gostam de andar pelas vielas do Bairro Gótico fazendo tours não autorizados com os desavisados. Caminhamos duas quadras e estamos no apartamento. Três cômodos, dois quartos e uma sala conjugada com uma cozinha, apenas um inconveniente, terceiro piso, que é um quarto piso, sem elevador! O bom que as calorias da nossa aventura culinária em Barcelona serão gastas nas escadas. O apartamento é extremamente iluminado, a entrada é uma das vielas do Bairro Gótico mas a janela do quarto, antigo, como tudo neste bairro, dá vista para o contrastante e moderno mercado Santa Catarina, segundo nosso amigo poeta, Augustin Calvo Galán, o único no mundo com telhado curvo revestido por cerâmica. O mercado Santa Catarina se destaca ao meio do Bairro Gótico, é moderno, a fachada é de linhas retas contrastando com o telhado curvo revestido por placas coloridas de cerâmica, enquanto o bairro Gótico inteiro exibe uma cor amarronzada, ora cinza, ora bege, porém sempre neutra, com seus telhados de telhas escurecidas pelo tempo, volta e meia apresentando imensos grafites que saltam aos olhos pelo colorido vibrante.
 A cozinha é pequena, separada da sala que tem uma mesa redonda de quatro lugares e um sofá frente a uma televisão que permanecerá desligada durante toda a nossa estadia em Barcelona, o mundo lá fora é muito para prendermo-nos a qualquer aparelho. Os quartos são amplos, com camas de casal e um apresenta uma porta janela que dá para uma pequena sacada na qual podemos perdermo-nos olhando a fauna humana que trafega nas vielas do Bairro. Temos aqui, também uma máquina de lavar roupa e, para minha surpresa, um fogão elétrico, que é muito comum aqui na Espanha. A cozinha apresenta uma enorme janela que dá para um prédio com um terraço onde um jardim luxuriante, cheio de pequenas  palmeiras  abana para mim no outro lado da rua. Perfeito!

Depois de conseguirmos colocar novamente o coração no compasso depois da escalada dos quatro pisos, descemos para o mercado Santa Catarina em busca de algo para comer.

Tudo que pode ser de interessante por fora, é com certeza, dez vezes mais por dentro o Mercado Santa Catarina. Bancas das mais variadas, com tudo que se pode imaginar de frutas, temperos e principalmente frutos do mar.  É impressionante a variedade de peixes, moluscos, crustáceos e outras coisas que não saberia dizer nem o nome. Além é claro de uma luxuriante variedade de frutas, legumes, pães, carnes dos mais diversos cortes, aves, como codornas defumadas e imersas em molhos oleosos. O mercado é uma festa para os olhos e para a imaginação. As bancas ficam na área mais central, ao redor, com mesinhas para a parte externa do mercado é preenchida por restaurantes que tem cardápios variados a preços relativamente populares. Existe uma peculiaridade, os preços variam de acordo com o local que é servido. Para comer nas mesinhas na calçada existe um acréscimo de cerca de 3 euros em cada prato. Aqui conhecemos o que chamam de menu do dia, o prato do dia de Barcelona. Porém não é um prato, é um conjunto de pratos servidos em sequência.




Basta sentarmos à mesa que o garçon solícito e sorridente pergunta o que queremos ao mesmo tempo que arruma a mesa e tenta nos explicar como funciona. Nos aponta para um quadro negro com uma lista de pratos escritos à giz, a lista é composta de 3 opções de prato para etapa da refeição. Eu escolho uma salada de entrada, uma porção de Rip grelhado, que não sei o que é e o garçon me explica que é um peixe que é servido em postas e que está muito bom, e um segundo prato, que é arroz negro. Arroz negro é arroz cozinhado com uma substância negra que os polvos produzem como defesa. Aqui chamado tinta de polvo.  O menu é escrito em uma língua semelhante ao espanhol que estamos acostumados na américa, é um misto de espanhol com catalão, os termos se misturam e ao pergunta ao garçon o que não entendemos, ele vai traduzindo os termos que são catalães. Nessa o Celso pediu coelho, que  na verdade era filé de frango, mas, como eles dizem, Vale!
Dois minutos depois de fazermos o pedido é despejada uma cesta com fatias de pão caseiro com uma tigelinha de manteiga e azeitonas negras imersas em azeite e ervas.
Fazendo aqui um adendo,  outra coisa que me apaixonei em Barcelona são os pães. São diversos tipos, com diversos formatos e consistências e são extremamente baratos. Com um euro se compra quase um quilo de pão, daqueles pães de casca grossa crocante que carregam dentro uma textura macia mesclada com diversas nozes e grãos. Tem pão de todo o tipo, redondo, comprido, baquetes, pães trançados, doces, salgados, duros, macios, tudo que se pode imaginar em pão existe aqui, pão com amêndoas, pão com uvas passas, só não achei o nosso gaúcho cacetinho, mas também não ousei perguntar se tinha.
Voltando ao nosso almoço, depois chega uma salada, que é um mix de folhas verdes, tirinhas de cenoura, repolho verde e roxo, com um molho de limão e azeite e algumas azeitonas negras. Depois vem o rip grelhado. São duas postas de peixe grelhadas, emolduradas por batatinhas à dore. O peixe tem uma casquinha dourada e crocante. Rip é um peixe cuja textura é firme, sem ser borrachudo, sem espinhas finas. Muito saboroso e fácil de comer. Eu já me sinto plena! O garçon então, ao trazer mais uma garrafa de vinho branco da casa, extremamente saboroso ( detalhe, neste menu a bebida é incluída, pode-se pedir desde água ao vinho na quantidade  necessária), pede desculpa que o arroz irá demorar um pouco pois ainda está no fogo, porém a vantagem é que sairá recém feito. Dez minutos depois vem ele, quase que dançando por entre as mesas, pedindo desculpas, com dois pratos fundos repletos de uma massa acinzentada até as bordas. O arroz negro com mexilhões! É lustroso, regado a azeite, com azeitonas pretas flutuando em uma massa cinza escuro de arroz com mexilhões. Este prato entrou no hall dos meus pratos inesquecíveis. Junto com o arroz o garçon trás uma jarra de água, para limpar o paladar. O arroz é temperado suavemente o que deixa o sabor de maresia ficar proeminente. Porém a consciência é algo inenarrável, desliza pela boca. O arroz arbóreo está na -consistência certa, nem duro, nem mole demais, sal na quantidade ideal, e os mexilhões levemente elásticos, sem estarem se desmanchando e nem duros demais. É um orgasmo gastronômico, não tem outro termo!






Estou a ponto de explodir, e o garçon pergunta qual dos três  tipos de sobremesa que desejamos. Escolho profiterolis com calda de chocolate. Vem mais ou menos uns cinco bolinhos macios e doces, recheados de um creme de chocolate mais denso com uma calda fina e quente de chocolate por cima. Provo um e tenho vontade de chorar, por ter comido tanto e não ter reservado espaço para a sobremesa. Ainda nos oferece um café e saímos sorrindo, mal podendo andar e simplesmente sem condições de subir 3 pisos de escadas medievais.
Resolvemos andar por Barcelona.


Gaudí



Parte do teto da Casa Pedreira de Gaudí


Falar de Barcelona e não falar de Gaudí é impossível. Barcelona é Gaudí, não só nas casas, mas nas roupas, nos cabelos, no jeito. É essa harmonia do clássico do antigo, do medieval, junto com o inovador e o original, pode-se ver mulheres extremamente elegantes, com cabelos coloridos de cores vivas, em penteados que assemelham-se aos punks, homens de ternos bem cortados com tênis extremamente velhos e mochilas de couro. Mulheres de tailleurs andando de bicicleta e salto alto. Barcelona tem este contraste, o contraste que Gaudí muito bem consegue, Barcelona é como Gaudí, único, um mosaico de cores e formas únicas. Barcelona é como Gaudí, não se pode copiar, não se pode mudar algo é um todo criativo e único, não se reproduz, Gaudí é Gaudí, como Barcelona é Barcelona, incomparável. A galeria de Gaudí são as ruas. Não se pode comprar Gaudí e encerrar em um museu para poucos verem, ele está ali em cores o formas para todos verem, pelo menos, as formas externas dos prédios que se vão insinuando na avenida de la Gracia no centro de Barcelona.

Depois de sairmos do mercado Santa Catarina, ainda com pesar dos profileloris que ficaram para trás, resolvemos dar uma caminhada para facilitar a digestão. Lentamente, sem pressa e sem planos vamos andando pelas ruelas do bairro gótico, duas quadras de onde estamos está a grande catedral gótica na praça central. O lugar é lindo, depois do claustrofóbico bairro gótico com suas vielas, esta praça é um amplo espaço transformado em palco para diversos artistas. Em frente a catedral está o Grand hotel Colon, com seu café e mesinhas com ombrelones enormes e um trânsito imenso de turistas. Nesse espaço Barcelona é uma babilônia, é um festival de idiomas que não se pode imaginar. É interessante sentar e imaginar de onde são as pessoas. Eu adoro sentar em um café e ficar fazendo este exercício de adivinhar as vidas. Com o tempo, pode-se identificar facilmente quem é quem na Babilônia, mesmo porque os de fora, na maioria das vezes tem os olhos grudados as máquinas fotográficas. Isso é algo que me impressiona, parece que as pessoas substituíram os sentidos por aparelhos, a memória é os memory cards das câmeras fotográficas. Existe um estilo próprio dos nativos. É algo que se mostra em algum detalhe, algo diferente, Qualquer um com uma calça cargo e uma mochila pode ser de qualquer local, ainda mais neste oceano de gente, mas, a bandana no cabelo amarrada junto com um coque com cabelos arrepiados em uma ponta e fofos na outra, denunciam que a moça com certeza é nativa, o que depois se verifica ao ela encontrar com outra que está com duas outras crianças com uniforme escolar e saírem conversando alegremente em bom catalão.


Depois da manifestação na Praça a pichação


Saímos andando por Barcelona, atravessamos o bairro gótico até chegar nas Ramblas, a grande avenida que nos leva até a praça central. Na praça central tem uma concentração de jovens auto intitulados, os revoltados, que fazem protesto pela crise espanhola. É um protesto pacífico, onde se vê uma porção de jovens alojados como se fosse um acampamento, pareciam ter saído diretamente dos anos setenta. Os pombos fazem coreografias na quente tarde primaveril de Barcelona a cada passagem de qualquer pessoa. Bem ao centro da praça sentada em uma cadeira, em um lugar de destaque está uma mulher vestida de preto, pintada, com um chapéu na cabeça em um protesto silencioso, as pessoas se aproximam, olham, mas ninguém diz nada. Há um imenso outdoor que ocupa toda a parede de um grande prédio vizinho à praça onde evidencia-se uma multidão e um casal se beijando. Só os rostos do casal original foram substituídos por um recorte com rostos de um casal gay.


Alteração em um cartaz gigantesco, Barcelona 2012

No dia seguinte o cartaz corrigido



Ficamos imaginando quem poderia ter subido lá para fazer isso, pois é muito alto. Após atravessar a praça encontramos a Avenida de la Gracia, uma avenida larga onde carros, ônibus, motos, bicicletas se misturam em uma ordem caoticamente coordenada. Nesta avenida concentram-se os cafés, as lojas de grife, e os imensos prédios que variam do medieval, ao neo-clássico, passando é óbvio por Gaudí, que não ouso tentar classificar! Apenas andar por aqui e observar as vitrines de Chanel, Balenciaga, Gautier, já me faz sentir-me rica. Aqui correm sobre saltos altos elegantes mulheres envoltas em echarpes, com bolsas de metais brilhantes, sentadas aos cafés conversando com outras da mesma espécie, é impressionante a mudança da Rambla e da praça para este ponto perto das casas de grife. A multidão de turistas segue ordeiramente em seu aspecto pleomórfico e concentra-se à frente da casa de Gaudí, eles são diferentes entre eles e diferentes do entorno também.


A Pedreira, Casa de Gaudí 



Uma concentração frente ao grande prédio que é diferente de tudo ao redor. Parece um sorvete derretido, destes de sabores exóticos tipo kiwi e melancia, ao mesmo tempo me lembra os castelos de areia feitos com areia molhada das praias do sul, onde a água escorre da areia e ela se adere formando torres como se fossem formigueiros. Os vitrais coloridos são brilhantes, revestidos de mosaicos cerâmicos de cores vivas. A impressão que dá é que se fixarmos o olhar ela começara a trocar de cor como se fosse um caleidoscópio. Pode-se evidenciar uma certa assimetria nas curvaturas, não é reta, não é perfeitamente curva. Essa imperfeição das linhas curvas e assimetrias das  retas me faz pensar que parece que o próprio Deus com suas mãos enormes desceu aqui para brincar de argila. Parece esculpida à mão por algum gigante enorme e criativo e pintada com giz de cera mágico. É algo impressionante, incomparável com nada que eu havia visto na vida.

terça-feira, 5 de junho de 2012

Amsterdam, ciaro e oscuro


 Fotos Ana Laura Kosby Marco Celso Huffell Viola


Rembrant trouxe a pintura o que os italianos consagraram ao chamar como o ciaro e oscuro, (o claro e o escuro) termo aplicado a técnica de sua obra que utiliza à luz e a  sombra para destacar os elementos que compõe o quadro. Essa Amesterdam que também foi à cidade de pintor, talvez possa ser definida assim também.
São 20 horas é dia claro e temos que encontrar a locatária do apartamento na Kaisergratia, uma rua localizada no Centrum na Amesterdam antiga.




É  primavera, a cidade tem uma luz incomum e nos canais grupos passeiam aos gritos, sorrindo e aparentemente felizes em barcos de todo o tipo. Um pequeno carro elétrico está sendo abastecido numa torre que fornece energia elétrica.

  Ponte da Kaisergratia

E a cidade começa a mostrar os contrastes, o verde das árvores, a cor da água dos canais, as paredes vermelhas e as cores intensas de alguns prédios, flores nas janelas, portas e escadas. Qualquer conto de fadas poderia se acontecer aqui sem prejuízo para a história.

E anoitece, depois de alojados num prédio absolutamente apertado que deixaria qualquer claustrofóbico em pânico para subir as escadas, vamos ver a cidade a noite.
Entramos num cofee shop, atrás de conexão wireles e deparo com aquele pé de canabis sativa da minha altura, plantada num vaso. Vários produtos que utilizam como ingrediente essa erva de múltiplas utilidades são oferecidos na prateleira. O cansaço é muito grande e temos que conseguir um local onde deixar o carro, os estacionamentos públicos são muito caros, e os carros só podem ficar de graça na rua da ½ noite às 8h da manhã, o que nos obrigaria de manhã cedo a pular da cama e retirá-lo.
A viagem de Paris foi muito pesada e a única coisa boa a fazer é dormir.
À noite a cidade muda seu tom, o escuro traz para a rua as criaturas da noite e Amesterdam se transforma.





 As bicicletas continuam circulando, mas em menor número e a partir da meia-noite tudo começa a fechar, é realmente estranho que uma cidade com essas características diminua seu ímpeto quando a madrugada começa.
Não se pode dizer que é uma cidade para crianças, elas são vistas durante dia sendo levadas pelos pais em bicicletas adaptadas. Mas na noite não há crianças nas ruas, mas adolescentes estrangeiras aos gritos experimentando  toda a liberdade de existir que em seu país certamente não conseguiriam.
Um conto de fadas um pouco assustador.
É fácil se perder em Amesterdam de todas as formas, além do problema da língua, é um desafio e o inglês não é muito praticado por eles.
A noite da cidade tem aquele escuro denso, pesado, pastoso como não vi em nenhuma outra cidade da Europa.


Alpes, bagagem e polícia




Cassino de Montreaux, o lago e os Alpes ao fundo

Para chegar à Itália nosso  próximo destino nos levaria a França, Luxemburgo, Bélgica e Suíça, onde atravessaríamos os Alpes.
É necessário falar dessas auto-estadas que atravessam a Europa. Elas são excelentes, bem cuidadas, o pedágio é barato, você paga pelo trajeto utilizado o que pode ser considerado justo, já que usa um serviço de excelente qualidade e não é o roubo institucionalizado dos pedágios brasileiros, onde paga-se caro por vias de uma única pista e muito mal conservadas.
O maior problema que encontrei nas  auto-estradas  são as entrada e saídas próximas as grandes cidades, ai reside parte do inferno. Não adianta mapa, ou um bom gps, tudo falha nas entradas e saídas, se você perdeu uma saída, para voltar vai ter que andar vários  quilômetros até encontrar a saída. E preciso estar atento a sinalização, se você tiver na Holanda, boa sorte, pois vai precisar dela.
Mas não é só na Holanda não, na Bélgica há uma língua ou dialeto, não sei bem, o flamich ( a pronúncia é essa do flamenco), onde as placas das grandes vias estão escritas.Assim, enquanto no mapa a cidade de Liege aparecia com o nome em francês, nas placas a cidade chamava-se Luike. É óbvio que o erro nos conduziu a um café em Luike para descobrir que Liege ficava próxima dali por  outro caminho.
 Depois de passar a Bélgica e seu flamich entramos na França, outra vez, em direção a Suíça. Na  fronteira, a gentil polícia francesa faz uma barreira.
Uma policial sorridente aproxima-se do carro e pergunta na janela se trazemos cigarros,respondo que não, drogas, também não. Ela, acredito, deve utilizar aquela técnica que protege o contraventor de uma cana mais dura se ele confessar antes o delito. Como não somos contraventores respondemos como ela nos solicita. Mas também imagino que as pessoas que exercem esse tipo de trabalho devem gostar de se enfiar no meio da roupa suja dos outros para saber se elas escondem alguma coisa além de roupa suja. E imagino também que para eles os contraventores podem  ter qualquer aparência independente da origem,forma e conteúdo que tenham.É preciso ter um talento especial para revirar a lata de lixo dos outros como um bom cão da lei.
Ela não parece acreditar nas informações que damos e solicita que desçamos do carro.
E começa um examinar tudo.
Ai encontra uma droga!
Uma garrafa de um vinho francês que compramos enganados e não tivemos coragem de tomar. A mulher examina tudo dentro do carro, até que finalmente satisfeita manda seguir viagem.
E Lausane nos espera.
Passamos batido por ela e seguimos rumo a Montreaux.
As duas cidades estão localizadas a margem do Lago Genebra. 
O lago está ao lado direito de quem entra em Lausane com destino a Montreaux e nas margens do lago, também à direita estão às imensas montanhas dos Alpes.
Do lado esquerdo as montanhas menos elevadas estão cobertas por vinhedos plantados ao longo da estrada,  fico imaginando os problemas daquele cultivo, bem como a colheita. Mas os vinhedos parecem estar ali há muito tempo.
Estamos em plenos Alpes e as montanhas são impressionantes, mas nada tão impressionante como o Lago Genebra e sua água cristalina. Existem várias cidades em torno e o Lago continua absolutamente transparente.
Numa disputa entre as cidades mais caras da Europa, Montreaux, fica certamente em primeiro lugar, alías a Suíça é muito cara, um big mac com uma coca não fica por menos de  40 reais.
E tem mais, Montreaux não tem estacionamento. No hotel o sujeito da recepção que fala no mínimo quinze línguas disse que  parking deles estava lotado e nos aconselhou deixar o carro na rua ou num estacionamento do Cassino em frente. Claro que quem pagaria o estacionamento seríamos nós, no hotel, a diária é para nos hospedar e não para estacionar o carro.
Montreaux é Suíça e na Suíça tudo é muito limpo, organizado e neutro. As pessoas parecem exibir uma educação e uma monotonia básica e silenciosa em relação às coisas. Não há ruído.
Montreaux está cheia de turistas, mas acabamos por reverenciar a dourada e estável aura da cidade. Muito da atividade local gira em torno do cassino, o cassino é o grande ponto de referência, o que decepciona. Parece que único museu importante da cidade é o Museu Olímpico e a única referência internacional da cidade é o festival de jazz.
As  casas antigas de veraneio de ricos europeus do início do século passado, com castelos de torres finas empoleirados nas montanhas, castelos de aspecto medieval grudados ao lago enfeitam a cidade. Os cassino estão em edifícios modernos, sem grandes atrativos,  são pequenos perto da luxuosa arquitetura da cidade. E contrastam com o grande hotel Éden de arquitetura classicista e com o restaurante instalado em um bangalô que oferece cozinha indiana ao por do sol do Alpes.


Arlon,praça da cidade Belga de 14 mil habitantes


 Em Montreaax pode-se identificar o dinheiro no ar, por tudo, por todos os cantos, por todos os carros, nas orelhas e torsos das indianas envoltas em ouro e seda pura, esperando um BMW ou uma Ferrari buscá-las em alguma esquina. A frota de carros é algo que chama atenção, apesar das ruas  exíguas, aqui não se vê os populares minis(Smats) que se vê na Europa inteira que povoam as ruas como se fossem formigas ligeiras em direção a algum piquenique, não, aqui os carros esportes parecem ser o carro da vez.
Montreaux parece ter uma modorra, uma marcha mais lenta, como o caminhar de uma mulher lindíssima e inverossímil de magreza supra-humana envolta em alguma roupa  esvoaçante de um grande estilista que  só pode ser usada  num set de filmagem de comercial de perfume. Montreaux é o cenário vivo destes comercias de perfume de grife. Não sei se é o cansaço da viagem ou se é o por do sol e o barulho da água do lago batendo nas pequenas rochas que dão a impressão de um lugar quase que hipnotizante.
Os Alpes parecem uma boa metáfora para Montroaux, lá, intocáveis, independente ao clima do mundo, mantendo-se acima do resto, com sua riqueza e seu clima, quem puder que me alcance, que sobreviva em mim, que se adapte e me escale, e pague por isso.
Falando em pagar, a Suíça não usa o sistema do euro o que causa alguns transtornos a quem viaja como a velha questão do  câmbio, onde sempre temos a sensação que estamos perdendo. A moeda é o franco suíço. É o que  sai nos caixas eletrônicos. Será uma desconfiança com relação ao euro ou apenas mais um luxo de ser quem é?
Nossos amigos portugueses diriam que sim, que o euro é um blefe e que quem está sendo sempre fortalecido com essa moeda são os alemães que pagam para os portugueses não produzirem e põe a culpa da derrota de Sarkozi na França a sua excessiva submissão aos alemães. Impossível não prestar atenção ao argumento deles Ao cruzar  pelo interior de Portugal é possível ver que a produção agrícola realmente é pequena no país, existem grandes extensões de terra que aparentemente foi cultivada e agora não é mais, pecuária, quase nenhuma. Na televisão Cavaco Silva diz que a exportação é a saída para o desemprego, mas me parece que Portugal tem pouco a exportar. Enquanto isso a primeira ministra alemã- Angela, alguma coisa, apoia as novas medidas laborais tomadas na Espanha. Não sei quais são, mas começo a concordar com meus amigos portugueses, só tenho receio de mais uma fobia, dessa vez a germanofobia.
Deixando a política e economia internacional de lado precisamos cuidar da nossa economia e retirar o carro da rua, as sete da manhã para  colocá-lo num estacionamento. O carro  ficou a noite inteira numa esquina com toda a bagagem  que amanheceu sem sofrer nenhum dano, coisa possível em Montreaux e impensável no Brasil.



Alpes e Itália

Outra vez a dificuldade sair de uma grande cidade, nesse caso Montreaux.Só para exemplificar o problema que é isso, essa dificuldade nos fez errar o aeroporto Leonardo da Vinci, em Roma e perder um vôo marcado.
 Mas voltando a Montreaux. O degelo continua enchendo o lago Genebra e retirando todo o branco da neve das montanhas. As saídas são confusas, não adianta GPS, Google mapas, mapas comuns, nada. Acabamos em uma estrada vicinal em cima de uma montanha cercados por extensas plantações de uva. Então, é descer e recorrer ao mais antigo sistema de  informações que existe: Perguntar a um passante solitário torcendo que ele seja da região e conheça a entrada para a auto route.
Mesmo com indicações de left, rigth, a saída é demorada até chegar à estrada que leva ao topo do Alpes na passagem para a França, depois Itália.
A primavera fez um belo trabalho na estrada, está tudo seco, o verde  das árvores, a grama das montanhas pontilhadas de branco, somadas aos pequenos lugarejos encravados em lugares inóspitos, tornam essa estrada um das mais belas do percurso, pode-se compreender então a quantidade de viajantes que fazem essa trajetória anualmente apenas para usufruir a beleza da estrada.

Os lugares enfiados entre as montanhas  distantes dos grandes centros tento imaginar como aquelas pessoas obtém recursos para sobreviver. Poucas plantações, pouco gado, ovelhas, e um que outro animal selvagem, mais nada, além do silêncio que se estende por tudo. Nessas regiões o tempo também se esqueceu de existir, não há onde exercer seu mandato, talvez apenas no degelo.



Itália e Costa Amalfitana









































Basta cruzar a fronteira para sentir a diferença, não do clima que é mesmo, mas nas pessoas e suas atitudes. A placidez Suíça dá  lugar a uma Itália em ebulição permanente.
Chegamos com o tremor de terra no norte do país, e pouco tempo antes de sair há outro.
O lugar aonde vamos, a Costa Amalfitana, a Riveira Italiana, está entre as cidades de Salerno e Nápoles e Nápoles vive a sombra do Vesúvio. E junto de Nápoles está Pompéia. É uma combinação de lugares que apesar da beleza, pouco convidativos de se hospedar ocorrendo terremotos.
Mas a Itália é a Itália.
 Você sabe que é um italiano legítimo quando o carro dele está batido ou muito arranhado, amassado em algum lugar, certamente é a população de maior volume de carros batidos per capita.
Fazia algum tempo que eu não via uma Romiseta, imaginava que aquele veículo de três rodas, criada com a participação de um brasileiro visionário, aquela  coisa de três rodas tivesse sumido do mundo. Mas não, apesar de não serem mais fabricadas há muitos anos continuam aparecendo para  atrapalhar o tráfego das pequenas estradas italianas que conduzem a algum lugar.

Origens dos vinhos italianos

E as motonetas e as motos muito potentes, passam voando se enfiando sem preocupação no trânsito. Os italianos sempre foram e continuam sendo o povo mais vivo, mais barulhento e visceral da Europa.
E surpreendente a Costa Amalfitana,o mar tem a cor verde esmeralda, verde azulada e transparente.
Subimos para a cidade de Ravello. A cidade como todas as outras da região da costa foram criadas no meio das montanhas, entre as montanhas, dentro das montanhas. E seus primeiros habitantes segundo conta-se foram os etruscos. Em praticamente todos os prédios que possuem uma pequena área, incluindo o hotel La Villete onde estamos existem parreirais de uva bianca titerno, e do  limão siciliano.Com a uva se produz um vinho local um pouco ácido e com o limão, o limoncelo.


Salerno Minor ou Positano

Ravello forma com Positano, com Amalfi, com Salerno Minor e outras localidades essa costa que é considerada patrimônio Mundial da Unesco. A região é e foi amada por artistas, escritores,como Graham Greene, Truman Capote,André Gide, Juan Miró ( a lista é enorme) músicos como Wagner, e celebridades da hora. Num dos hotéis da cidade, D.H. Lawrence em 1924 começou a escrever o Amante de Lady Chatterley. Oscar Niemeyer fez em Ravelo o prédio do auditório de música da cidade, interferindo com sua armação de concreto branco a paisagem da pequena localidade.
A surpreendente Costa Amalfitana estende-se por todas as pequenas cidades que ficam nas costa de Nápoles, ou seja, nas costas do Vesúvio que parece ter poupado sempre essa região com receio de estragar esta beleza perene.

Rio Lates, uma Vila Mágica em Portugal

Fotos Ana Laura Kosby e Marco Celso Viola




O poeta José Ilídio  Torres havia organizado com os poetas que publicaram na Alef  um lançamento da revista em Ponte de Lima, uma Vila, dito por ele como “mágica”. Para chegar a ela o caminho é a auto-estrada A1 Norte partindo de Lisboa que segue pelo interior de Portugal passando por algumas das principais cidades do país como Coimbra, Aveiro, Porto e monumentos históricos e tradicionais como a cidade de Fátima, ou o Castelo de Tomar. Depois de quatro horas de viagem quase na fronteira da Espanha chega-se a  Ponte de Lima.
Imediatamente começa a aparecer a magia da Vila.






Igreja Matriz


Ponte de Lima é a Vila mais antiga de Portugal, tem  mais de 800 anos, a igreja Matriz é de 1400. Surpreende a beleza  e a integridade das construções bem como a paz que emana do pequeno lugar.
É uma sensação estranha que o tempo não parece importar e que o rio Lima que corre perpendicular a Vila  teve sua ponte construída pelos romanos e parece contrariar a  ideia de Heráclito que é impossível banhar-se nas mesmas águas duas vezes.
A razão do que afirmo é baseada numa lenda local.  Os romanos chamavam a esse rio que cruza a aldeia de Rio Lates, (o rio do esquecimento, que nos faz esquecer a cada renascimento quem fomos na vida anterior, Gustavo Doré ilustra na Divina Comédia, Dante atravessando o Lates). Se dermos a razão da lenda criada nesta cidade pelos romanos é possível, sim, banhar-se nas mesmas águas do Lates diversas vezes, desde que consideramos serem possíveis os renascimentos.









E conta a lenda local, representada nas margens do Rio Lima, que um batalhão de soldados está paralisado pelo medo que se recusam a atravessar o rio com receio de perder a memória. O comandante  é  único a atravessar o rio e ao chegar no outro lado prova  a eles que não a perdeu chamando, um a  um, pelo nome.
E a memória não perdida dessa cidade está colocada em cada parede, viela, janela, porta, no rosto dos moradores e nos pequenos negócios. Foi nela que os monges de Francisco de Assis criaram seu primeiro mosteiro em Portugal e, é passagem do caminho para os peregrinos de Santiago de Compostela.
Aos poucos a magia da pequena Vila vai nos separando da velocidade, da imprecisão, das incoerências  aparentes do mundo e nos põe em suas águas e nos mostra uma vida de solidez e paz que já foi reconhecida pelos reis de Portugal, os monges de Francisco e os peregrinos que nela transitam.
E noite chega e encontramos os poetas José Ilídio  Torres, Maria Alexandra Cruz Mendes, Antonio Paiva e Flávio Lopes da Silva. Nenhum deles reside na Vila e  vieram de diversos lugares de Portugal para nos encontrar e participar do sarau e lançamento da revista Alef organizado por Jose Ilídio no bar, o Arte e Baco.



Arte e Baco em Ponte de Lima


Mas antes disso eles nos convidam para jantar  no restaurante Vaca das Cordas ( título de uma tradição que remonta aos celtas, primeiros habitantes da região. É uma festa, e entre as atrações está um touro ( no início era uma vaca amarrada, mas ela não assustava ninguém trocaram por um touro) persegue a multidão.
O Vaca das Cordas  fica em uma das vielas. As mesas estão na calçada, a primavera portuguesa nos premia com um fim de tarde pleno com o sol refletindo no rio.  A penumbra da noite aumenta e os poetas começam a falar das  tradições do local, de seu amor por Portugal, de sua admiração pelo  Brasil, de suas preocupações com  o futuro da Europa, quando chega a mesa um prato especial do restaurante, um indescritível bacalhau, acompanhado do vinho verde da região ( verde que também pode ser tinto, é verde no tempo de maturação,explicam).



 Maria Alexandra Cruz Mendes, lê seus poemas publicados na Alef


E noite continua perfeita quando seguimos para sarau. Enfrentamos o bar Baco e Arte lotado, uma platéia atenta e o sotaque  diferente começa a ecoar pelas paredes antigas do Baco com poemas ditos na voz de  José Ilídio  Torres, Maria Alexandra Cruz Mendes, Antonio Paiva e Flavio Lopes da Silva e Ana Laura. Alguém puxa também poemas de Pessoa e de outros poetas portugueses que não conhecemos, mas prometemos  descobrir.
Quando o cansaço nos derruba vamos para o melhor quarto de hotel que encontramos em toda a nossa viagem: No primeiro andar da Mercearia da Vila, quase na frente do Mosteiro dos Franciscanos. Um lugar de sonhos abençoados.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Barcelona- cinco línguas, Festival Internacional de Poesia, haxixe, etc


Fotos de Ana Laura Kosby e Marco Celso Huffell Viola


Barcina,poema visual de Juan Brossa que indica o nome primitivo de Barcelona




O encontro marcado às 11h com o locatário em frente ao Mercado Santa Catarina, dava  um aspecto de clandestinidade.  Ele vai entregar as chaves de um apartamento no bairro Gótico, já pago em frente a um mercado?
No horário marcado aparece Javier com as chaves na mão. Não é mesmo um locatário que inspire confiança, usa jeans, uma barba torta, mal feita e fala rápido, mal dá para entender o que diz:
-Precisei marcar aqui porque o apartamento fica numa dessas ruas atrás onde os automóveis não entram e os motoristas de taxi ficariam dando voltas. Vamos lá, é aqui ao lado do mercado!
Entramos numa viela ao lado do Mercado Santa Catarina e ele nos conduz a ao número 4 da Carrier  del Tragí. As vielas do Bairro Gótico tem nomes de profissões, etnias, etc, mas essa não consegui entender o que significa.
São vielas muito estreitas.
Xavier explica rapidamente quais as chaves que se usa para abrir a porta de ferro trabalhado do prédio  é pede para ajudar a carregar a bagagem. Temendo as escadas a frente, pergunto por perguntar: - que piso és?
Ele reponde subindo as escadas:
-Tercero.
Eu havia esquecido que não havia elevador e como o térreo que não é considerado andar, subiríamos quatro andares com a bagagens nas costas. Agora não adianta reclamar, resta a esperança que o apartamento seja bem arrumado num prédio que tem no mínimo 600 anos de idade.
E, é. O apartamento tem dois quartos, fogão, máquina de lavar e duas camas de casal, água quente,etc. E mais importante, está ao lado do mercado Santa Catarina, o único mercado do mundo coberto com lajotas cerâmicas.


Arroz Negro e um poeta indica Doces do Céu num subterrâneo



Instalados era hora de sair a cata do que comer. Decidimos evitar os pequenos restaurantes que cercam o prédio e entramos Santa Catarina a dentro.
O mercado é fantástico, tudo de bom em frutos do mar e o melhor das especiarias da Espanha.
Querendo evitar os Tapas e na ignorância do que pedir deparamos com o Bar Joan, um restaurante com um balcão e poucas mesas, todas ocupadas e com um menu bem diferente.
 Serve arroz negro. Esperamos a mesa vagar e sentamos ao lado de um médico alemão que  passa as suas férias em Barcelona por cinco ano consecutivos, tem uma esposa negra da Serra da Leoa e um filho pequeno. Tudo indica ser um ótimo local para comer às 14h30.
Um pouco atrapalhado no pedido ao garçon, pedimos o arroz negro e o que segue o menu.
Ele trouxe frango com batata frita ( até ele depositar o prato, acreditava que no menu havia escrito conejo e não polo) uma garrafa de vinho e solicitou um pouco de paciência pelo arroz. Quando esse chegou foi a apoteose da mesa,o arroz é tão  negro que para conseguir aquela cor, imaginei  que a tinta deveria ter sido extraída de uns quinze polvos. Mexilhões ou lula completam o prato. Muito, várias vezes  delicioso.

As cinco horas fomos encontrar o poeta Augustín Calvo Galan, que publicamos na revista  Alef, na Praça da Catedral. O ponto de encontro é na frente do Hotel Odeon, na Praça Catalunha, pedimos café para passar o tempo.
Quando ele chega a conversa flui com facilidade.

Augustín Calvo Galan, fala sobre sua cidade e a Revista Alef


Relato a ele a minhas dificuldades de falar o espanhol e ele me corrige, dizendo que o espanhol como língua na região não existe e sim o catalão, e que a língua geral em toda a Espanha é o castelhano, mas existem outras três línguas. Ali estava a minha confusão!
A primeira vez que havia estado em Barcelona, além de ficar pouco tempo, na cidade, ainda era o período franquista e falar com quem quer que seja era uma aventura. E havia lendas, no período, que não que não existia fechadura nas portas das casas, não por segurança, mas para facilitar a entrada da polícia.
Bom, daí para frente comecei a seguir o poeta em tudo que ele me dizia sobre seu povo e a cidade de Barcelona.
-Vou levar vocês onde os turistas não vão.
E Augustín parte conosco em direção a Catedral de Barcelona. Comento o custo da entrada para a Catedral (uma das mais belas catedrais góticas da Europa)de 6 euros e ele diz que nas horas da missa é de graça e já aponta na entrada da antiga muralha da cidade um poema visual de Juan Brossa feito com o antigo nome da cidade Barcina. Do edifício em frente há dois murais de Picasso adornando a fachada de um prédio recente.
O prédio na opinião de Augustín: - és mui feo, pero és Picasso!
E a partir disso ele nos leva para um viagem surpreendente pelo bairro Gótico iniciando pelo Carrier dos Juif.
-Aqui, no início da cidade era o bairro dos judeus.
Percorremos as vielas  que o poeta nos revela com respeito e admiração  por sua história. Fico pensando se conseguiria fazer o mesmo com ele nas cidades que vivi e vivo, no Brasil, creio que não. Claro, temos a nossa história, mas seus símbolos, suas marcas estão degradadas ou descuidadas e tudo é menor que isso aqui. Podemos dizer, sim, que temos 250 línguas e vários troncos linguísticos, mas elas estão na selva e sendo mortas gradativamente, porque nós mesmos, brasileiros, nem sequer sabemos quais são e como preservá-las.
Paramos em frente a um porta imensa adornadas por duas aldravas enormes  de ferro que enfeitam a porta com rostos de  selvagens.

-Aqui- diz Augustín- certamente era propriedade de alguém que enriqueceu na América e ao voltar fez questão de mostrar a origem de sua fortuna ostentando-a na porta.
Ele nos leva também por locais onde a Guerra Civil deixou suas marcas de balas na parede.
É impossível deixar de pensar em Lorca talvez enterrado embaixo de uma fonte como essa, aonde estamos, em uma praça no interior do bairro Gótico.


 Comentamos a ele sobre o XXVIII Festival Internacional de Poesia de Barcelona que está acontecendo na cidade.
Ele explica o Festival como uma atividade apoiada pelo Ajuntament de Barcelona ou seja, um equivalente a nossa Prefeitura é um  festival oficial que é  basicamente organizado por poetas “preferencialmente catalões”  e que privilegiam a língua catalã.



-Agora o Festival está menor- diz ele - já teve o dobro do tamanho, o custo aumentou muito e o Festival diminuiu. Eles, eventualmente chamam um ou outro poeta do exterior para dar essa conotação internacional, mas o cerne é catalão e aqui, quem não escreve em catalão é uma espécie de traidor. Ele  aponta no programa um outro poeta catalão importante, mas resume dizendo: - todo o ano são os mesmos!
Nada muito diferente do que acontece em nosso pequena e pretenciosa província, com uma pequena ressalva, há dentro do Festival um  acontecimento de “set-cents anys d’historia, ès la celebració poética més antiga D’Occident”. É o julgamento “Del Premi de Poesia Jocs Florals 2012”. Esses Jogos Florais, explica Galan, são feitos por poetas que escrevem sobre flores, e no concurso buscam ganhar a “sua flor”.
Caímos na risada.
E esquecemos o tal Barcelona Poesia, nenhum de nós estava interessado em escrever um poema floral, mesmo com essa primavera enfeitando a tarde com as gaivotas voando por todo lado.
Depois de nos indicar os subterrâneos onde está a primitiva história de Barcelona e explicar sem que eu entendesse muito bem a história dessa província autônoma da Espanha com uns policiais vestidos de forma estranha “Los Mossos de La esquadra” ele nos conduz dentro do labirinto para uma casa de chá no coração do bairro.
-Aqui os turistas não vem- ele frisa.




É uma casa subterrânea onde os doces são feitos por freiras  de todas as ordens religiosas da Espanha- Dominicanas, Clarissas e todas as outras.
Quis meter a mão no cardápio para carregar comigo, a dona da casa não permitiu creio que com receio de cópia. Os doces se não são divinos pelo andam perto disso.
Após o chá, nos despedimos de Augustín, prometendo  encontrar com ele dois dias depois no lançamento de um livro que ele faz a apresentação.

Músicos sem licença

Como nas outras capitais da Europa, você está caminhando na rua ou no metro e escuta,  como em Barcelona, o concerto de Aranjuez ou Bach ou ainda música  gitana tocada em dupla, som da na melhor qualidade.
Mais tarde, tomando uma cerveja e comendo uma pizza que não é pizza, uma coisa tradicional da região feita com queijo provolone e tomates, que vem fervendo na mesa, descubro que aqueles músicos em Barcelona, para tocar precisam autorização do Ajuntament.
Quem me conta isso é um músico uruguaio que toca onde consegue com seu trio.
Os locais para se tocar são determinados e se músico não tem licença tem seus instrumentos confiscados e ainda é multado. Ele, apaixonado por música brasileira, teve seu cavaquinho confiscado.
-Um cavaquinho- reclama triste, com a perda do instrumento- onde posso conseguir outro aqui?
E um aroma de haxi enche a noite e descubro mais uma faceta de Barcelona, se você plantar a popoula ou algumas das várias espécies da nossa conhecida canabis sativa ou maconha, e utilizar em sua residência, não dá nada!
Mas não dá vontade de rir?
-Mas e a semente? -Perguntaria um curioso “ interessao  ( já estou tentando hablar castelhano ou cataló)  no assunto. Compra-se em um lojinha dentro do Bairro Gótico. Bom, na sequência precisa-se de um bom vaso e um certo cuidado para a planta prosperar.
Você só acha que Porto Alegre Demais, ou algumas de nossas províncias ao sul do Equador maravilhosas é porque nunca saiu delas ou elas não saíram de dentro de você.
No meu caso é a segunda vez que bato pernas por Barcelona, e estou para conhecer os elementos mais preciosos dessa cidade, além de Gaudi e suas obras suntuosamente, genialmente loucas ou seja, para conhecer além de Augustín o poeta que já publicamos em nosso primeiro número da Revista Alef, mas outros poetas que fazem  com que o espírito dessa cidade e de outras cidade da Espanha permaneça vivo através do tempo. E nos certifica isso a matéria de Emilio Ballesteros, de Granada, que escreve na Alef sobre Cirlot, um poeta completamente desconhecido em nosso país e muito respeitado aqui, como devem ser os grande poetas.



Paris, a cultura dos apressados e ratos ladrões






Paris do alto da Notre Dame que faz 850 anos em 2013
Outro ponto de vista do alto de Notre Dame


Quando você passa alguns anos sem retornar a um local, ao voltar são inevitáveis as comparações. Mas Paris só pode ser comparada a ela mesma. Não adianta o Woody Allen dar voz a um personagem que graciosamente fornece um tema para um filme de Buñuel ou citar Gertrude Stein e misturar Tolouse Lautrec, Hemingwai, numa salada cultural apressada e mal feita, no seu Paris a Manhattan, ele como todo o cinema norte-americano faz o que sempre fez  ao criar o Tarzan ou o Zorro. Acultura e banaliza civilizações inteiras para o consumo fast food.
Nisso os gringos são bons, em criar refeições rápidas em leitura, cinema, teatro,  jogos, etc para consumo imediato e cujo o resultado é muito ruim.
E o Woody Allen que conheci aqui mesmo, pessoalmente, na antiga cinemateca de Paris(agora transformada em cinemateca de Passy) quando do lançamento de seus primeiros filmes não foge a regra, o personagem étnico angustiado  dele se esgotou com o tempo e ele comete uma bobagem dessas a ponto de dar um tema a Luis Buñel, cineasta que ele nunca jamais vai chegar nem perto com seu cinema água com açúcar metido a nervoso.
E essa mentalidade burra e arrogante que tem trazido a Paris filas e mais filas de turistas puxados como gado por um guia que leva na mão sempre um estandarte para que  os animaizinhos do rebanho não se percam. Isso é tão trágico que é possível ver como vi na Notre Dame uma idiota posando em pose de manequim de revista em frente a um daqueles túmulos de um éveque da cidade, Buñel puro, sem roteiro.
Não há mais a necessidade de ver, olhar, sentir o que uma imagem, uma estátua,  um poema ou que um lugar podem transmitir, basta registrar com as máquinas fotográficas.
Elas substituem o olhar, o pensamento, a cognição, para mostrar ao outro:
 -Estive lá!
É Woody Allen puro.
A arrogância do dinheiro tentando impor seus costumes vazios e hábitos de vida ocos, sem nenhum substrato espiritual. É a compreensão rápida do você vive, num comprimido, numa resposta imediata do psiquiatra de plantão 24 horas, que explica como o mundo é, e do que seus sonhos são feitos.
Mas se você continua angustiado, problema seu.
Você continua angustiado e não sabe porque.
Porquê?
Porque esqueceu o que é vida.
E  a vida está aqui!
Na arte dos pintores que sofreram todo o tipo de escárnio e maldizer. E que agora valem milhões.
 Van Gog durante a sua vida vendeu apenas um quadro para o seu irmão. Ou seja, qual é valor do que você faz? Do que você é para o mundo, as respostas estão aqui, descubra se for capaz.
O que você imagina como um  pintor como Dali, poderia pintar depois de Delacroix?
Ele, Eugene Delacroix  é perfeito em técnica, em imaginação, em temas, superá-lo é quase inumano.
La Liberté Guidant Le Peuple,  está lá, no Louvre, para quem quiser ver, é claro, e para quem puder pagar a entrada, uma obra de imaginação  que todos os livros que ensinam a língua francesa usam na capa.
E ai?
O artista que parte com sua arte menos que isso, parte com nada.
 Não há desculpa possível, nem a psiquiatria, nem as escolas isso ou aquilo, nem os dadaístas, futuristas, nem os surrealistas e todo  o resto, superar o que foi feito, está além, sem concessão, é uma outra estética, fazer o novo, eis a questão!
E assim na literatura como  e em todo o resto da arte.
Paris  é isso, é uma cidade que tem a  maioridade de três mil anos. Cidades que não tem essa história, nem de sofrimento, nem essas  batalhas que essa teve, não podem nem se chamar de cidades, como Lisboa, como Barcelona. É uma ofensa a elas.
São vilas. Povoados.
Lugares que o fogo e a luz ainda não testaram.

E Paris é pagã e ao mesmo tempo profundamente espiritual.
Sabiam que no século Xll o carnaval saia de Notre Dame? Não? Então leiam, meus amigos Os Mistérios das Catedrais  de Fulcanelli. Ele fala não apenas  de Notre Dame, mas de outras catedrais européias.

É claro, que a Rua Gregoire de Tours, em pleno Quartier Latin mudou, mas o prédio de número 17, onde morei, continua lá como esteve durante 200 anos, mudou com mais restaurantes, mas a rua continua igual



A Buci no Quartier Latin



.Aumentaram os imigrantes, domingo na estação de Chatelet é possível ver o quanto isso é verdade.


Estação do metro de Luxembourg

 Talvez seja interessante observar que em vez deles estarem na parte de cima da cidade estão, abaixo, nos subterrâneos. Será que isso indica alguma coisa?
Me perdi em Chatelet, essa droga desse metro! Havia esquecido que é necessário memorizar a direção final que ele vai e não a estação.
 Aprendi nesse período de viagem uma palavra nova e uma ideia comum; a palavra: Islamofobia e a ideia comum: Que a Europa está em crise, ouvi isso em Lisboa, Barcelona e agora em Paris.
Leio nos newspapers de hoje que querem tirar a Grécia da zona do euro. Mais um país em crise. É sabido que essas crises, tem especuladores, bancos, que ganham muito com elas.
Isso do euro, pra mim foi uma das melhores coisas que aconteceram a Europa, apesar é óbvio das resistências nacionais, mas em países tão próximos, com economias quase semelhantes é até uma forma de proteção.
E na questão da islamofobia, também sabe-se que alguém ganha com isso. Mas agora, o antigo colonialismo está pagando, acredito, que bem menos o que deve para suas antigas colônias.
Mas meu assunto não é economia, nem sociologia de almanaque e sim essa cidade, com suas galerias de arte, suas praças onde se pode manger um baguete atolado de presunto e queijo e uma garrafa de  suco, tranquilamente, pois nessa praça, em outro banco, um casal faz o mesmo entornando uma garrafa de vinho pelo bico, dando risadas.
É a vida de Paris a pleno que você encontra pela cidade indo onde os turistas não frequentam como o Le Petit Troca (uma pequena brasserie a coté do metro Trocadero, onde a cerveja é barata e pode-se apostar em todos os tipos de corridas de cavalo).
É um bom local para parar se você estiver morto de cansado de caminhar, com fome e chovendo muito na cidade. Quanto as apostas nos cavalos não recomendo, apesar de ser em tempo real, durante o período que permaneci ali, não vi ninguém comemorando a vitória de um cavalo.
Voltando aos museus, estive no Louvre, numa promoção internacional de La Nuit des Museus ( em galego) ou a Noite dos Museus, quando todos os grandes museus europeus estariam abertos gratuitamente à visitação.
Embaixo da piramide da entrada tive que rir ao lembrar o final idiota do livro de Don Brown, o Código da Vinci, quando o personagem, o investigar genial dele conclui que o Santo Graal ou Sangue Real, está enterrado naquele local, justamente onde sai o elevador que é usado para carregar pessoas com problemas  motores.
 É a cultura do fast food em ação, o cara copiou ( foi inocentado do plágio, porque cargas dágua não sei, aquilo é roubo descarado da livro a Herança Messiânica de dois jornalistas, um inglês e outro francês) a essência da história e misturou com Tom Cruise e Walt Disney (tá no livro, quem leu sabe) e acrescentou ação, e o  resultado=sucesso, com o final, destes, para quem não quer pensar e não conhece o local do elevador,  é ótimo.
Mas voltando ao Louvre gratuito, gente se batendo por todo o canto e um aviso na parede, de outra praga européia: os batedores de carteira. Fui advertido disso em Portugal e Barcelona.
Hilário! E logo na seção do Egito. Mas bah! Os caras não querem concorrência! Cuidado com os ladrões de pequeno porte!
Nós carregamos, arrastamos, metade da arte da Grécia, do Oriente pra cá, mas isso tinha um motivo, uma razão de etre. Tirar arte desses locais nunca foi roubo qualificado, agora roubar carteiras é. Deixem os grandes roubos para nós, mas cuidem-se vocês dos pequenos.
Mas também descobri no Louvre, sem esperar e nem querer ver um pequeno ladrãozinho que saiu de dentro da escalier rolante.
Um camondongo francês, que é igual a qualquer camondongo do mundo, saiu e voltou para seu esconderijo. Deve ser parente do rato cozinheiro do Ratatouille, o filme, pois  reside  próximo ao café do primeiro andar que estava fechado. Creio que o camondongo havia pensando que aquele dia era feriado e quando se deu conta havia uma multidão na volta, retornou correndo ao seu esconderijo. Mas tarde no andar de baixo vi outro  correndo entre as porta de vidro do outro restaurante. Fiquei imaginando que se as câmaras de segurança do museu não são capazes de registrar um batedor de carteiras, aqueles ratos devem estar fora do alcance delas. Talvez eu os esteja julgando mal, não são ratos ladrões, são ratos artistas. Pra mim duas hipóteses são possíveis: como só vi dois ratos numa tarde/noite movimentada do museu: é uma população tolerada controlada e restrita ou há uma população bem vasta desses roedorzinhos visitando à noite as partes mais saborosas das exposições ou ainda quem sabe, eles estão apenas resolvidos a interferir nas receitas do café do museu.
Ufa! Não visite nenhum museu em dia gratuito. Melhor pagar.
Mas Paris só deve temer apenas um tipo de roubo, o dessas imagens, locais que a cidade detém e que os turistas buscam frenéticamente enfeiando a cidade com suas máquinas fotográficas.
Proibir de fotografar tudo, não apenas em alguns museus, pode ser uma solução.
Agora, nesse instante estou na rua Vaugirard num hotel 4 estrelas e da janela vejo em frente, um parte da Ecole que existe desde de 1280 e as alunas trabalhando sei lá em que.
Também da janela posso ver a Tour Eiffel, e lembrar da primeira vez que vim aqui,  tinha apenas um número da Monseiur Le Prince, como referência.
Pra completar o jour, beber um bom vin de lang doc, ou da língua do Oc. Diz-se Languedoc. Mas é Langue Do Oc.
Existe alguém ainda nesse mundo que seja capaz de falar essa língua? Língua do Pays D`Oc.
Esse pays e essa língua estão aqui na França, e faz parte de uma das primitivas línguas da humanidade como a dos bascos na Espanha.
Mas isso é outro assunto.

Por hoje chega!
Domani seguimos para Amesterdan e suas caves  envoltas em fumaça de fumos estranhos. Mas temos parte da Bretanha pra percorrer onde os bardos andaram cantando suas canções.














segunda-feira, 21 de maio de 2012

Lançamento de dois livros Mia Couto e Agualusa





Lisboa







Chegamos em Lisboa pontualmente as 11horas (hora local, 4 horas  menos no Brasil)  o avião da TAP em voo direto de 10 horas,  voa à noite num céu de brigadeiro, com um vento de cauda ao meio do Atlântico com no máximo 117 km por hora, durante toda a viagem, mas nos faz permanecer acordado a maior parte da noite. Não adianta, nenhum dos filmes exibidos no pequeno ecran disposto na frente da poltrona é capaz de diminuir o tempo da viagem ou aumentar o conforto, os bancos que são curtos, duros, desconfortáveis e possuem  pouca inclinação o que faz com que o passageiro da classe econômica escute até os ruídos do estômago do passageiro da poltrona traseira.
As 11 h15 depois de pegar as bagagens e passar no chekout, enfrentamos a luz de Lisboa, o sol  está abrasador.
Tomamos a decisão de seguir num ônibus. Há duas opções, uma que faz um percurso  turístico pela cidade, mais caro e o ônibus comum. É domingo e tememos que o ônibus comum seja mais demorado e não aceite  o volume de bagagem que carregamos conforme nos informou o atendente do coletivo destinado aos turistas. O que não é verdade, não há restrição de tamanho ou número de bagagens nos coletivos de linha comum. Ambos param a cerca de poucos passos do portão de desembarque, um euro e setenta e cinco cents depois embarcamos com mais de 100 quilos de bagagem no ônibus comum.
No ônibus nota-se os primeiros sotaques do português de diversas etnias é um português cantado não importa de onde, quase musical, diferente do nosso acento, o nosso português da américa em contato com o português da África é uma sinfonia de sons.
Alguns minutos mais tarde passamos pela  87ª Feira do Livro de Lisboa e prometemos  voltar à ela mais tarde. Seguimos por uma avenida arborizada iluminada pelo sol forte da primavera lisboeta.
O condutor do autobus adverte que chegamos a nossa parada, um local na Praça dos Restauradores. Atravessamos a rua atrapalhados com a bagagem  para entrar no hotel Vip Éden.
A reserva é para um  quarto  no oitavo andar. O quarto possui máquina de lavar louça, geladeira, fogão e os armários e interior mostra um antiguidade sem muita dignidade, porém é espaçoso e bem iluminado. Há um leve odor de tabaco ruim no ar, mas pensar em mudar de quarto é impossível.  Melhor um banho rápido para tirar de cima do corpo a noite mal dormida e a dor nas costas das poltronas ruins do tamanco voador. Abro a cortina do apartamento 806 sem esperar muita coisa e deparo com parte da cidade alta e abaixo um lindo prédio antigo bem conservado com um jardim interno mais bonito ainda. Nesse prédio funciona  a polícia para turistas e alguma coisa do ministério da cultura, mais adiante, menos de uma quadra vejo um elétrico amarelo entre duas paredes que faz a ligação  entre a cidade alta e nós.
Depois de um banho e alguns momentos de descanso fomos procurar comida, é domingo em Lisboa e os restaurantes estão bastante movimentados. As opções eram boas no entorno do hotel, do outro lado da rua, embaixo dos guarda-sóis, algumas famílias reunidas.


Verbo Servejar!



 Mas resolvemos escolher a Servejaria ( com S, mesmo) ao lado. Um local novo bem arejado, o local junto à janela de vidro permitia ver os passantes da viela ao lado, gente estranha e gente muito estranha. O cardápio foi o primeiro embate com a língua, pedir explicação ao garçon sobre o prato é fácil, entender o que ele responde que é difícil.
O copão de cerveja estupidamente gelada e o sol do início da tarde torna a comunicação mais fácil. Ele traz um prato com dois croquetes dizendo que é carne de porco (a especialidade da casa é  porco barreado e o nosso croquete deve fazer parte de algum projeto de reciclagem animal). Na frente  do bar há um expositor com alguns peixes imersos em gelo que não inspiram muita confiança. A Ana pede um salmão e  eu uma carne na chapa imersa num molho de queijo. Mas a surpresa surge quando ele traz o pão. Acostumado ao velho pão bromatoso, nosso de cada dia, desesperadamente esticado e aerado para poder se agarrar às cascas vazias, o pão português aparece com uma casca grossa, escura, encorpado que me faz perguntar o garçon que pão é a aquele. Ele  diz:
 - Pão comum.
Eu pergunto:
-Como se faz?
Ele responde:
-Botamos ele no forno e fica pronto!                                                            
-Ah, tá explicado!
Termina a refeição e vamos pra a rua. 

Éden




Tenho outra surpresa, um prédio lindo, art Decó  que ocupa quase metade da quadra da Avenida dos Restauradores, dominando quase toda a praça, o prédio do antigo teatro Éden, eu estava tão cansado que não havia visto, a Ana me diz, estamos hospedados lá.  O Hotel está dentro de um ex-teatro, enorme, com uma faixada curva em linhas minimalistas com uma grande estátua ao centro, como manda as normas da arte Decó. Imagino que os quartos pela antiguidade dos mesmos deveriam servir de local para a estadia de artistas de grandes companhias, pois o prédio do teatro é enorme.



Lisboa
                texto de Ana Laura kosby

Lisboa não deveria se chamar Lisboa, deveria se chamar Lis-ótima. Meu caso com Lisboa não é paixão, é amor à primeira vista. Daquelas coisas sem explicação. Conheci Lisboa por ocasião do lançamento do meu primeiro livro. Claro, que estrear lançando um livro ganho por uma editora em Portugal, ainda mais de poesia já é um plus, mas conhecer Lisboa é algo que todo o brasileiro, se pudesse, deveria fazer. Encontramos aqui muito das nossas raízes e das nossas razões de ser brasileiros. Mas, histórias à parte, gostaria de falar de algumas coisas especiais em Lisboa, do Chiado, do fado e da feira-do-livro e da literatura.



Falar em Lisboa e não falar do Chiado é impossível. Acredito que toda a cidade tem uma egrégora, um espírito, para mim o espírito de Lisboa é o Chiado.

Chiado é um largo em Lisboa e o nome dado à zona circundante, entre o Bairro Alto e a Baixa de Lisboa.

O Chiado, que teve a sua origem num bairro medieval situado no interior das muralhas, é hoje um local romântico e buliçoso, apelidado de coração de Lisboa, infelizmente afetado profundamente pelo incêndio de 25 de agosto de 1988, que destruiu muitos edifícios do século XVIII.

O nome Chiado é muitas vezes usado para designar apenas a Rua Garrett, a principal artéria comercial da zona, que tinha essa designação e que, posteriormente, foi rebatizada com o nome do escritor e poeta Almeida Garrett. A rua, que desce do Largo do Chiado para a Baixa, é bem conhecida pelas suas lojas, cafés e livrarias.



São muitas as hipóteses para a palavra Chiado, usada desde 1567.
Uma das mais interessantes refere-se ao chiar das rodas das carroças que subiam as íngremes vertentes.
Uma segunda refere-se à alcunha ao poeta do século XVI, António Ribeiro, O Chiado.

É das zonas mais chiques e ricas de Lisboa, onde se encontram hoje alguns ateliers de artistas famosos.
Foi um local frequentado por intelectuais modernistas e desde sempre tem estado ligado a uma Lisboa cosmopolita, com uma forte componente intelectual, liberal, modernista e também romântica.

Encontram-se ali várias estátuas de figuras literárias. Eça de Queirós (por muitos considerado o melhor escritor realista português do século XIX), Fernando Pessoa (famoso poeta português do século XIX e XX), que está sentado a uma mesa no exterior do Café A Brasileira.



Encontra-se ainda no mesmo largo, quase que em frente, a estátua de António Ribeiro, O Chiado.


Do outro lado da rua, ergue-se a estátua de Luíz de Camões, no largo com o seu nome.




O Chiado é muito mais do que uma expressão de ser e de estar. É uma área chave da estrutura de Lisboa, da sua imagem e da sua memória. Território eleito pela moda, a gastronomia, a arte, o teatro, a música, a literatura e a política, aqui se fizeram leis para Lisboa e para o resto do país. Um pouco de toda a parte entrou em Portugal pelo Chiado.
A história do Chiado é também, e principalmente, a história dos seus edifícios. Cada rua, cada prédio, por vezes cada andar ou mesmo cada sala, tem a sua história própria. As suas personagens. As suas curiosidades e particularidades. As suas lendas.
A história do Chiado perde-se no tempo.




Segundo Alexandre Herculano (escritor da era do romantismo, historiador, jornalista, e poeta português, do século XIX):

"Para ver o Mundo só há dois píncaros: ou o Himalaia ou o Chiado."

Durante os meses do verão europeu, eu pude ver, o Chiado se transforma em uma Babilônia, cheio de turistas de todo o mundo, que mais se compara ao pelourinho na época do carnaval de Salvador do que qualquer outra coisa. Quando se pode andar como andei hoje, pelas ruas do Chiado em uma manhã luminosa de primavera, pode-se sentir e ver todas as cores do Chiado, com suas tascas e restaurantes com as mesas nas ruas, com a proliferação de artistas, performances, músicos, aguarelas (como dizem os portugueses) num fervilhar vivo que contagia e apaixona. Sou fã do Chiado, por ele traduzir este espírito artístico e livre que Lisboa trás em si, que foi capaz de cativar e abrigar tantos artistas ao longo de toda sua história.
O Chiado é uma face de Lisboa que carrega o Fado.

Para os brasileiros menos conhecedores da música e cultura portuguesa, ao se ouvir falar me fado, logo vem à memória Amalha Rodrigues e alguma música melodiosa com algum tema triste. A primeira vez que vi um espetáculo de fado ao vivo foi em um restaurante de turista em Lisboa, muito bonito, mas, para uma boa e visceral brasileira como eu, não chegou a bater fundo no peito, até que eu conheci um Fado Vadio. Aconselho a todo o viajante que for a Lisboa, que realmente queira conhecer o sentido e o espírito do Fado que vá a um fado Vadio. Fado vadio é o fado fora do circuito “para inglês ver” turístico de Lisboa. É o fado vivido e cantado nos bairros, nas pequenas tascas, onde os maridos cantam para esposas e as músicas são o fundo para inúmeras histórias pessoais, onde a emoção brota do peito e emociona, eu tive a oportunidade de ir a um fado vadio, é o fado que não é cantado por cantores profissionais, é o fado vivo e vivido, onde o teor catártico é tão grande que todas as coisas se resolvem. Fui a um lugar chamado casa Nelo, um pequeno restaurante em uma das travessas da avenida Liberdade, foi quando realmente conheci o fado. Mas cuidado, caso algum dia você vá a algum fado vadio, silêncio, pois depois do intervalo de comidas e acepipes, o anúncio: - O fado vai começar. Silêncio. Pois se houver barulho ou fala, o cantor para e pergunta: - Não gostas de fado? (não aconteceu comigo, mas vi acontecer!).



Há mais ou menos quinze quadras do Chiado, está o parque Eduardo VII, no qual acontece a feira do livro de Lisboa. Um evento e tanto, principalmente para os Portugueses. Portugal é um país de ícones da literatura e poesia. Camões é talvez, e bem merecidamente, um dos maiores poetas que o mundo já viu, revolucionou a poesia. Depois, segue Fernando Pessoa, mais moderno, porém não menos importante. E, os escritores, como o bem mais contemporâneo, Saramago, são figuras que através da literatura foram capazes de lançar o nome de Portugal muito além das fronteiras deste pequeno leão que é Portugal. É através da literatura que ele tem seu mais sonoro rugido. Daí uma feira-do-livro, tão grande e variada, povoada de eventos. A feira se extende por duas ruas que ocupam todo o parque em sua maior extensão que são cerca de 5000 metros no mínimo do comprimento ( percorrer toda a feira é exaustivo!). A feira é promovida pela Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL). Miguel Freitas da Costa, secretário-geral da APEL, acrescentou que este ano algumas editoras reduziram o número de pavilhões, enquanto outras se apresentam em associação: «este ano contamos com 206 pavilhões, menos 12 que o ano passado, e menos seis participantes.» O que é um reflexo direto da crise econômica da crise financeira européia, que não chega a ter um grande impacto no desempenho da feira, que Segundo o mesmo, acabou com um balanço positivo. Este ano não participamos da feira, porque não somos associados. Mas nos rendeu vários contatos com distribuidores, que estão sempre presentes, o que garantiu que nossa Alef em breve estará nas bancas lusitanas. Com certeza é um evento que não se pode perder em Lisboa. Outro evento que participamos foi o lançamento de um livro de Agualusa, um autor angolano, apresentado pelo poeta e escritor que admiro muito, moçambicano, Mia Couto. Fomos ao lançamento por convite de uma amiga escritora e poeta, Margarida. Ao chegarmos no charmoso lugar à beira do Tejo, o espaço B.Leza, fiquei surpresa com a frequência, em plena segunda-feira. Uma população de pelo menos umas trezentas pessoas lotava o espaço, evento com status de chegada de jogador de futebol em grande time do eixo rio-São Paulo. Com direito a fotos coquetes e tietagem. Perguntei para o Celso, que tem um trânsito maior no meio literário, se aqui no Brasil também é assim, pois já fui a inúmeros lançamentos e não lembro de ter um público tão grande a não ser que seja fomentado pelas super mídia televisiva e muito bem fomentado, diga-se de passagem. Não, ali estavam muitos acadêmicos, escritores, agentes literários, distribuidores, etc… realmente, prestigiar dois autores oriundos das colônias que fazem questão de preservar seu acento é algo que atrai público em plena segunda-feira no atual cenário cultural lisboeta.





"Só os sonhos nos resgatam"



                                                         Agualusa recebe a revista Alef


É a fala de Mia Couto que consigo escutar no lançamento do livro de José Eduardo Agualusa, Teoria Geral do Esquecimento. Mia Couto ( ele que havia lançando alguns dias atrás seu “A Fala da Leoa”) faz  a apresentação  do livro do Angolano. Quando chegamos no espaço B.Leza, dedicado à cultura junto ao Tejo, a palestra está no meio. Outra surpresa, o local está lotado!
Penso que alguma coisa está mudando na mentalidade dos portugueses, no período que meus pais moraram em Lisboa, entre na década de 80/90, os portugueses viam os descendentes de  portugueses- africanos com preconceitos de toda ordem. E o espaço B. Leza  lotado, é  indicação do sucesso do lançamento,  para mim  (posso estar enganado, nada como uma apreciação rápida para cometer um erro)  uma mudança no comportamento; intelectuais  de todos os matizes estão presentes ao local. O  B.Leza  fica no reformulado cais de Lisboa, através dos vidros, dentro da noite dá para ver a ponte que já teve três nomes: Ponte Salazar, Ponte 25 de abril e finalmente Ponte Sobre o Tejo, acompanhando ela também as mudanças sociais em Portugal.
Tenho com Lisboa uma ligação especial não apenas por seus poetas, intelectuais, o que seria natural, mas pelo fato de meus pais terem residido nela durante tanto tempo sem serem portugueses e terem criado uma escola numa das freguesias da cidade.
Depois de tanto tempo passado, de ambos terem falecido, é que vim a entender a ligação que eles tinham com cidade. Lembro-me que os criticava:
-Como moraram tantos anos, próximo à França e nunca foram à Paris, Londres?
-Não!- retrucava meu pai- não queríamos e nem precisava!
A resposta dele me irritava, muito, no que poderia Lisboa ser superior a Paris?






Comecei a entender andando pelo Rossio, bairro que fica no alto da cidade e que o elétrico amarelo nos deixa em poucos minutos. A beleza e antiguidade da cidade é maravilhosa, as tascas onde se bebe o melhor vinho português, os pratos de peixes diversos. As construções, o comércio, algumas casas que funcionam há mais de 200 anos. Depois uma volta pelo elétrico, fazendo uma ligação entre a cidade velha e o castelo de São Jorge, a estátua de Fernando Pessoa, junto à Praça Camões abençoa o café a Brasileira.
 Lisboa trouxe de forma avassaladora a lembrança boa dos meus pais e todos os antepassados que um dia andaram por essas vielas. E depois, há um perfume nela nesses dias de primavera que dá vontade de se transferir para Lisboa de forma definitiva, esquecendo a selva que vivemos e aprendemos a aceitar.